Sobreviver em um mundo em transformação
- Josue Passos
- 2 de dez.
- 3 min de leitura
ALÉM DA REAÇÃO: COMUNIDADES BRASILEIRAS REINVENTAM SOBREVIVÊNCIA EM UM MUNDO EM COLAPSO CLIMÁTICO
Texto: Professor Josué Passos Silva
Presidente do Pró-Dique São Leopoldo.
02 de Dezembro de 2024 - 06:47
O planeta está em estado de sítio. Incêndios monstruosos, enchentes, secas prolongadas e eventos extremos não são mais notícia do futuro; são a realidade cotidiana de milhões.
Esse cenário de terror e morte, como bem observado, é o resultado direto de décadas de descuido sistêmico com a natureza.
Enquanto a resposta global ainda patina em discursos políticos e metas distantes, um movimento silencioso e urgente brota do chão das comunidades mais afetadas.
Precisamos de Resiliência Ativa e União coletiva.
“Não basta lamentar; é preciso aprender a viver no mundo que criamos e, então, mudar a forma como o habitamos.”
É aqui que surgem duas visões distintas, ambas ambientais, mas com focos radicalmente diferentes.
De um lado, iniciativas de diversas cooperativas de economia verde representam um passo crucial:
demonstram que é possível gerar renda e desenvolvimento de forma sustentável.
Elas são o “como ganhar dinheiro com o meio ambiente”, uma transição econômica vital.
É o modelo que mostra que a preservação pode ter valor de mercado.
De outro lado, porém, existe uma frente mais imediata e visceral:
a da sobrevivência pura.
É o campo de atuação de projetos como o Pró Dique São Leopoldo e seus Sub Grupos em cada bairro de nossa cidade e outros movimentos Sociais semelhantes em todo o mundo.
Este não é um projeto sobre economia verde.
É um projeto sobre a continuidade da vida humana no planeta.
Seu foco não é lucrar com o ambiente, mas ensinar a comunidade a sobreviver aos desastres, reconstruir o que foi destruído e, o mais crítico, prevenir a próxima tragédia.
Enquanto o primeiro modelo é sobre adaptação produtiva, o segundo é sobre resiliência comunitária.
Envolve ensinar desde a construção de casas seguras e sistemas de alerta precoce, até a recuperação de matas ciliares que impedem enchentes e a criação de hortas comunitárias resistentes à seca aprender a reconhecer e usar pantas alimentícias e medicinais espontâneas.
A ação, Pró Dique trata de como armazenar água da chuva, de como evacuar um bairro em 15 minutos, de como curar o trauma psicológico pós-desastre e de como replantar uma floresta que protege as casas.
É a educação ambiental com os pés no barro e as mãos na enxada, literalmente reconstruindo diques de proteção – físicos e sociais e culturais.
“Pró Dique não é simples política.
É algo muito mais importante, necessário e que não pode esperar”, ecoa a voz de um de seus idealizadores.
E essa talvez seja a maior tragédia atual: a maioria dos líderes, envolvidos em ciclos eleitorais curtos e visões pequenas de sua guerra ideologica partidária, ainda não entendeu totalmente isso.
Eles veem a pauta ambiental como um custo ou um nicho, não como a base fundamental para a segurança nacional e a continuidade da vida humana.
A educação que precisamos agora vai além de reciclar ou de comprar um produto eco-friendly.
É uma educação para a autossuficiência e o mutualismo em tempos de crise climática.
É aprender a ler os sinais da natureza, a fortalecer os laços em cada bairro, a dominar técnicas de reconstrução rápida e de cultivo regenerativo.
O caminho é duplo e simultâneo: precisamos das cooperativas que transformam a relação econômica com a natureza, e, com igual ou maior urgência, dos projetos como o Pró Dique, que preparam o corpo e a alma da comunidade para os impactos que já são inevitáveis.
Só assim, com uma geração educada não apenas para preservar, mas para sobreviver e regenerar, conseguiremos mudar, de fato, a forma como nós os seres humanos tratam a única casa que temos.
A hora não é de esperar por salvadores e Messias.
A hora é de aprender a salvar a nós mesmos, juntos.
Att:
Josué Passos Silva.
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