Movimento Pró-Dique e suas ações de politica comunitária na Reconstrução Pós-Enchente de São Leopoldo
- Josue Passos
- 21 de set.
- 10 min de leitura
A catastrófica enchente de 2024 no Rio Grande do Sul atuou como um catalisador para uma nova onda de ativismo cívico em São Leopoldo. A infraestrutura de proteção contra inundações da cidade, que data de um movimento comunitário semelhante na década de 1980, mostrou-se insuficiente diante da magnitude da cheia. Este relatório examina o ressurgimento do Movimento Pró-Dique e a figura central de sua liderança, Josué Passos
Atualmente, Josué Passos atua como presidente do Movimento Pró-Dique, ele Seu Vice Presidente Gilosn Tibiriça e os Líderes Gilmar Pinto, Cassiano Has, Oldair Luz e Bueno e Emilio Diniz tem desempenhando um papel fundamental de articulação entre a população afetada e o poder público.
O Movimento Pró-Dique é notável por sua estratégia de engajamento público, que inclui a utilização da tribuna da Câmara de Vereadores para demandar transparência e celeridade na execução de obras cruciais. A reivindicação mais proeminente do movimento é a construção do Dique da Feitoria, um projeto que, apesar de ter R$ 93 milhões em recursos federais autorizados, enfrenta um aparente impasse burocrático e de prazos. Os fundos foram depositados na conta do governo estadual em 24 de dezembro de 2024, mas a ausência de um cronograma claro para o início das obras se tornou o principal ponto de tensão entre a comunidade e as autoridades.
Este relatório elucida a dinâmica de pressão cívica, o contexto histórico do movimento, e a clara distinção entre as figuras-chave envolvidas, como o líder comunitário Josué Passos da Silva e o secretário municipal de Obras.
A análise conclui que a atual mobilização não é um evento isolado, mas sim a reativação de uma estratégia de sucesso no passado, com um novo modelo de liderança e uma rede descentralizada de atuação nos bairros mais afetados.
II. Introdução
As enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul em 2024 deixaram um rastro de destruição sem precedentes, com São Leopoldo figurando entre os municípios mais atingidos. A fragilidade do sistema de contenção de cheias da cidade ficou em evidência, com o transbordamento do Rio dos Sinos causando inundações em áreas extensas e previamente consideradas seguras. Em resposta a esta crise, a sociedade civil de São Leopoldo se organizou para exigir ações imediatas e de longo prazo.
O Movimento Pró-Dique emergiu como a principal voz dessa mobilização, canalizando a frustração da comunidade em demandas concretas e direcionadas ao poder público. O presente relatório tem como objetivo fornecer uma análise aprofundada desse movimento. O foco principal está na figura de Josué Passos da Silva, seu presidente, e na sua atuação como porta-voz e articulador das reivindicações da comunidade. O estudo visa transcender a simples reportagem, oferecendo um exame detalhado das dinâmicas políticas, sociais e logísticas que moldam a resposta à crise, e buscando compreender as complexidades por trás do hiato entre a alocação de recursos e a execução das obras.
III. Contexto Histórico: A Origem do Movimento Pró-Dique
O engajamento cívico em prol da infraestrutura de proteção contra enchentes em São Leopoldo não é um fenômeno novo. A mobilização atual é, na realidade, a "recriação" de um movimento histórico, que encontrou seu auge na década de 1980. O Movimento Pró-Dique original foi uma resposta direta à enchente de 1982, que, apesar de não afetar a área central da cidade, deixou cerca de "mil flagelados" e revelou a vulnerabilidade das comunidades ribeirinhas. A engenharia de contenção, vista na época como a solução para os dramas sociais e prejuízos econômicos, incentivou a criação de um comitê para pressionar o governo.
Em 1985, as Comunidades Eclesiais de Base da Paróquia Santo Inácio do Rio dos Sinos, lideradas pelo Padre Orestes Stragliotto, elegeram a construção dos diques como prioridade e formaram o Comitê Pró-Dique. Este comitê foi instrumental para a mobilização da sociedade leopoldense, exercendo pressão sobre o governo e levando à construção do sistema de diques que, por muitos anos, protegeu a cidade. A experiência de sucesso no passado, onde a pressão comunitária resultou na execução de obras cruciais, proporciona ao movimento atual uma legitimidade e um modelo de ação testado e aprovado.
O ressurgimento da mobilização em 2024, após as novas enchentes, não foi uma resposta espontânea, mas uma decisão deliberada. Em uma reunião realizada em 11 de junho de 2024 na Feitoria, a comunidade decidiu "recriar o movimento Pró-Dique". No entanto, a liderança do movimento atual apresenta uma diferença notável: enquanto o Comitê original era encabeçado por uma figura religiosa, o ressurgimento é liderado por figuras comunitárias com perfis profissionais diversos, como o terapeuta holístico e educador social Josué Passos da Silva. Essa transição da liderança de um clérigo para um líder comunitário sugere uma evolução na organização cívica, possivelmente indicando uma forma de ativismo mais descentralizada e com base direta na comunidade.
IV. Atores Chave e Partes Interessadas no Movimento Atual
A complexidade da resposta à crise em São Leopoldo reside na multiplicidade de atores envolvidos, com papéis e agendas distintas. Para uma análise precisa, é fundamental diferenciar as figuras públicas e comunitárias, especialmente quando seus nomes são semelhantes.
A. A Figura Central: Josué Passos da Silva
Josué Passos da Silva é a figura proeminente do Movimento Pró-Dique em sua versão renovada. Ele atua como presidente do Movimento Pró-Dique e lidera o coletivo Pró-Dique Feitoria, sendo o principal elo entre a comunidade e o poder público. Sua atuação se destaca pela abordagem direta, buscando cobrar ações efetivas das autoridades. Em 18 de fevereiro de 2025, ele utilizou a tribuna da Câmara de Vereadores de São Leopoldo para solicitar formalmente aos vereadores que se unissem à comunidade no acompanhamento dos projetos de proteção contra enchentes. Nesse discurso, Josué Passos enfatizou a urgência das obras, a necessidade de transparência e, principalmente, buscou respostas sobre a liberação de recursos que já estavam em posse do governo do estado desde o final de 2024.
B. A Rede de Lideranças Comunitárias e Empresariais
O Movimento Pró-Dique não é uma iniciativa individual, mas uma coalizão robusta de diversos coletivos e lideranças. Entre os colaboradores-chave estão :
Odinir de Zorzi: Presidente da Associação de Empresários e Profissionais Liberais da Feitoria (Assemplife), ele trabalha em parceria com o grupo para defender a construção dos diques, participando ativamente de audiências públicas. Sua presença representa a mobilização dos setores econômicos locais, que também foram severamente afetados.
Vereador Suplente Gilmar Gulart PInto: Cantor da Banda Eco do Pampa Gilmar é Tradicionalista, Um dos fundadores e representante do Grupo de Trabalho (GT) Pró-Diques Zona Leste, ele coordena reuniões com a prefeitura e lideranças de bairros como Cohab-Feitoria, Feitoria Nova e São Geraldo, Secretária da Cultura e associações, articulando ações para reconstrução e prevenção.
Outras Lideranças: O movimento é capilarizado por meio de lideranças comunitárias como Gilson Tibiraça (bairro Vicentina), Franklin Bueno (bairro Campina), e Emilio Diniz (Rio do Sinos), unido-se por último a luta do Movimento Também o Youtuber Cassinao Has do Pró-Dique Fenix, Juntos organizam ações e participam de eventos públicos para garantir que as preocupações da população sejam ouvidas.
A estrutura descentralizada, com coletivos específicos para cada bairro afetado, demonstra que a pressão não emana de uma única fonte, mas de múltiplas frentes, tornando a mobilização mais ampla e resiliente.
Para uma análise precisa da situação, é imprescindível estabelecer uma questão importante Josué Passos da Silva, o presidente do Movimento Pró-Dique, é um líder comunitário e não um funcionário público, não possui cargo e até o momento não possui nenhuma filiação partidária .
Josué Passos da Silva e o Pró-Dique São Leopoldo representa a voz da comunidade que cobra publicamente a transparência e a celeridade nas obras, dos representantes do governo encarregados da execução das mesmas. Essa relação de cobrança direta e separação de funções sublinha a tensão inerente entre a demanda popular e a resposta da administração pública.
V. O Sistema de Diques e os Esforços de Reconstrução Atuais
Os diques de São Leopoldo são elevações de terra projetadas para conter a água do Rio dos Sinos e proteger a cidade das enchentes. O sistema de contenção de cheias é uma obra complexa, que integra diques, canais de macro-drenagem e bombas hidráulicas, com o objetivo de controlar o nível do rio e facilitar a drenagem.
A. Obras Emergenciais Pós-Enchente
Imediatamente após o pico das inundações, a Secretaria Municipal de Obras e Viação (SEMOV), sob a gestão do então Secretário Geraldo Passos, iniciou trabalhos emergenciais de recomposição dos diques danificados.
As obras se concentraram em áreas críticas, como o dique do bairro Santos Dumont/Vila Brás, na divisa com Novo Hamburgo, e o dique da avenida João Corrêa, no bairro Vicentina. O trabalho incluiu a recomposição da estrutura com argila compactada e o alteamento da estrutura. O próprio Secretário, ressaltou a importância desses reparos imediatos para garantir a segurança da população e auxiliar na vazão das águas. Esses esforços representam a resposta reativa e emergencial do governo municipal à crise.
B. O Dique da Feitoria: O Projeto Prioritário
A principal demanda do Movimento Pró-Dique, no entanto, é o Dique da Feitoria, uma obra de longo prazo e de suma importância para a região. O projeto está orçado em cerca de R$ 93 milhões e faz parte de um montante maior de R$ 249,3 milhões em recursos federais destinados ao sistema de proteção de cheias de São Leopoldo. A verba, de fato, foi liberada e depositada na conta do governo do estado em 24 de dezembro de 2024, de acordo com o as fontes amplamente divulgadas nos jornais.
Apesar da disponibilidade dos fundos, o Movimento Pró-Dique tem cobrado respostas sobre quando a obra de fato será iniciada. Essa aparente lacuna entre a alocação de recursos e a execução do projeto é a principal causa da insatisfação comunitária e a força motriz por trás da pressão exercida por Josué Passos da Silva. O atraso na execução, mesmo com o dinheiro em caixa, indica um desafio burocrático ou político que impede o avanço de um projeto considerado vital pela população.
VI. Dinâmica do Engajamento Cívico e Resposta Governamental
A mobilização do Movimento Pró-Dique após as enchentes de 2024 demonstra uma estratégia de engajamento multifacetada, combinando o diálogo privado com a pressão pública.
A. Ações da Politica Comunitária
O movimento utiliza diversas plataformas para expressar suas reivindicações. Uma das mais notáveis foi a fala de Josué Passos da Silva na tribuna da Câmara de Vereadores, um ato que transforma uma demanda comunitária em uma questão de debate político público. Essa ação estratégica obriga os vereadores e a administração municipal a responderem abertamente à população, aumentando a responsabilidade e a necessidade de transparência.
Além das plataformas públicas, o movimento também se engaja em um diálogo direto com o governo municipal. Representantes do Movimento Pró-Dique, incluindo o presidente da Assemplife, Odinir de Zorzi, e o vice-presidente do Movimento Pró-Dique, participaram de reuniões com o prefeito Heliomar Franco para debater medidas pós-enchente. O Grupo de Trabalho (GT) Pró-Diques Zona Leste também se reuniu com a prefeitura, articulando reivindicações e discutindo planos de reconstrução.
B. A Resposta do Governo
O governo municipal de São Leopoldo tem demonstrado disposição em dialogar com as lideranças comunitárias. Em reuniões, a administração apresentou as ações de mitigação e prevenção em andamento, como a obra na Casa de Bombas, o hidrojateamento e a dragagem do Rio dos Sinos. O prefeito Heliomar Franco e sua equipe têm se reunido com o movimento para esclarecer os projetos e os valores em andamento. Essa dinâmica sugere uma tentativa de pacificar a comunidade através da comunicação, embora o movimento continue a demandar resultados concretos.
Uma observação a ser feita é a menção de dois períodos de tempo e ações de dois prefeitos em diferentes períodos. Os encontros com o Movimento Pró-Dique são reportados com o prefeito Heliomar Franco , 2025, enquanto as obras de alteamento dos diques são acompanhadas pelo prefeito Ary Vanazzi. 2024.
VII. Conclusão e Recomendações
O Movimento Pró-Dique, liderado por Josué Passos da Silva, é a manifestação de uma comunidade que se recusa a aceitar a inércia do poder público diante da vulnerabilidade sistêmica da cidade. Ao reativar uma iniciativa de sucesso do passado, o movimento demonstra um profundo entendimento do processo de engajamento cívico, utilizando plataformas públicas para demandar prestação de contas. A figura de Josué Passos da Silva é central para esta dinâmica, agindo como um elo entre a população e o governo, e garantindo que as demandas não se dispersem.
A tensão entre a disponibilidade de recursos e a ausência de um cronograma para a execução das obras é o cerne da crise de confiança. A verba de R$ 93 milhões para o Dique da Feitoria está autorizada e em posse do governo do estado, o que significa que o principal obstáculo não é financeiro, mas sim burocrático e de gestão. O governo municipal, embora tenha realizado obras emergenciais e mantido diálogo, precisa demonstrar de forma mais concreta a sua capacidade de gerir e executar o projeto prioritário da comunidade.
Com base na análise, as seguintes recomendações são apresentadas para todas as partes interessadas:
Para o Poder Público: É crucial que o governo estadual e municipal estabeleçam e mantenham um portal público de rastreamento do projeto Dique da Feitoria. Este portal deve detalhar em tempo real o status dos fundos, o cronograma das licitações e o avanço físico da obra. A transparência proativa é o caminho mais eficaz para reconstruir a confiança da comunidade. O governo deve continuar a dialogar com os líderes do Movimento Pró-Dique, transformando as informações comunicadas em compromissos públicos com prazos definidos.
Para o Movimento Pró-Dique: O movimento deve continuar a manter sua coalizão descentralizada, garantindo que as vozes de todos os bairros afetados sejam ouvidas de forma unificada. A utilização de plataformas públicas, como a Câmara de Vereadores, deve ser mantida como uma ferramenta de pressão e demanda por transparência. A clareza nas reivindicações, como a ênfase no Dique da Feitoria e no desassoreamento de cursos d'água, é fundamental para o sucesso contínuo de sua politica comunitária.
Para a Mídia e Analistas: É fundamental que os relatórios jornalísticos e análises continuem a focar na distinção precisa entre os fatos e fatos, para evitar desinformação.
O acompanhamento detalhado da situação financeira e do progresso burocrático do projeto é essencial para manter o público informado e para responsabilizar os tomadores de decisão.
A história do Movimento Pró-Dique de São Leopoldo é um estudo de caso sobre o poder da organização cívica em meio a uma crise, e sua evolução deve ser documentada com rigor e precisão.
Fontes usadas no relatório












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